"Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração."
Ela me veio com olhos de sono, vestia um vermelho reluzente
com preto, era alta, linda, com os cabelos escorridos e negros. Eu, tonta, não
apostava nada nisso. Ela, nervosa, mantinha as mãos geladas durante o filme, ou
talvez dentro do saco tamanho M de pipoca doce com um gosto de caramelo ou
chocolate. Eu não a conhecia. Ela não me conhecia. As três primeiras palavras
ditas por ela me arrancaram sorrisos e uma cabeça abaixada de vergonha.
Ela chegou com a voz suave, um sotaque lindo e as mãos tão
bonitas que eu poderia segura-las por um bom tempo. O perfume exalava, daqueles
que não se quer esquecer. E a cada dez palavras, me arrancava mais uma
gargalhada.
Eu, coração duro, já não tinha noção do que era conhecer alguém e querer
manter isso. Sem pressa, sem pular etapas, sem atropelar algum momento
importante. A paciência do sentimento que se forma de alguma maneira, seja qual
for ele, na gente. A paciência de construir as coisas leves, sutis. A
delicadeza de alimentar, manter e fazer crescer.
Ela me beijou numa sala escura de cinema em um dia de maio
e, depois disso, pegou a minha mão - mal sabe ela o quanto eu gosto que peguem as minhas mãos. As minhas quentes, as dela geladas. Foi ali
que eu desejei abraça-la e dizer: fica nervosa não, provavelmente estou na tua
mão.
A conversa nunca parou. O tempo, sim. Era como se uma
coisinha muito pequena acabasse de ser plantada num órgão já estático do meu
corpo e aí eu voltei a sentir de novo. O que, exatamente, eu não sei, mas sorrio
todos os dias desde então.
Ela de ar, eu de terra. Ela de água, eu de ar. Ela de ar, eu
de água. De vez em quando eu sinto uma vontade de abraça-la com força, num
abraço demorado onde eu sentisse todos os cheiros possíveis que podem
existir numa moça. Mas ela já disse: nada de ir muito rápido. E eu consenti com o pedido.
Acho que além das mãos, foram os olhos que me encantaram, ou
talvez os dentes alinhados, ou tudo o que a faz linda como é. Ainda não descobri, mas gosto do jeito que me olha,
um jeito ainda indecifrável. Gosto da forma que me beija, com gosto de doce
infinito. Talvez ela nem tivesse a pretensão de me conquistar, grandíssimo erro de percurso! Parece que as coisas me encaminham pra isso, esse encanto.
Eu não sei o que está por vir, não sei como a vida vai dar
as cartas. Essa coisa de gostar, de querer bem, eu nunca soube de onde vem.
Mas hoje, exatamente nesse tempo, o que eu mais queria era arrancar suspiros e
morar no pensamento dela tanto quanto ela arranca meu riso e se torna parte do
meu dia. Uma parte que - como se diz? - a parte bonita de espera e saudade.
"Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar."
2 comentários:
Queria saber me expressar assim. Impecável!
Uma das coisas que me faz mais feliz e que tem sido motivo de minhas orações é te ver assim de novo...primeiro: escrevendo!, e segundo: amando essa coisa doida que é viver. Ainda tenho um ciúme tão grande e ao mesmo tempo rezo pra tudo dar tão certo que tu nunca mais precise saber o quanto já deu errado antes...Amo tu pequena. Um beijo com carinho.
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