quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Desapego É Meu E Ninguém Tira

Será que existe n'algum lugar...

Dama da Noite, era exatamente esse o texto que me compararam aos vinte e um anos. Ela tinha treze, a menina quem disse isso, e eu fui a única paixão-mulher na vida dela. Foi doído-bonito ler aquilo e perceber eu, mulher vivida naquela idade. Como devo ser agora, então?

Tu, eu queria falar sobre uma história bonita e reticentemente continuar as outras cartas. Tu tem medo do amor. Tu tem medo do amor e por isso vou te escrever isso tudo que vem logo após esse discurso de que estou sem tempo ou sem vontade - a mínima vontade -de te enviar. Falar sobre pessoas que temem o amor. Não sei, mas hoje em dia ele mata. Se não te mata por fora, te mata por dentro. Tem certeza? Estou descolada demais pra dizer que já amei ou que poderia vir a te amar. Tu já leu esse tal texto-eu? É enorme e cansativo, levei meses pra ler. Na realidade as frases me doíam tanto que eu só aguentava uma por vez. Talvez eu tenha disso de ser cansativa também.

Meu bem, o café esfriou e café frio, gelado mesmo, só com leite, sem açúcar e no verão. Aqui dentro esfriou. Saca esses vidros a prova de bala? Como se diz? Eu tô blindada e vacinada.

Era meu, agora nem é mais bem. Falar que é meu bem é bonito pra cacete porque, pensa aqui comigo, se tu o és e se eu te chamo disso é porque é o que tu faz em mim. Tu faz um bem danado e até cheguei a ser o bem na tua vida, aquele refúgio de desabafo no fim da noite de domingo onde tudo te dói e não se quer falar pra ninguém simplesmente porque ninguém pergunta. Tentei te alertar, mas a vida é assim: quanto mais a gente fala, menos vão ouvir porque se torna repetitivo, muda o som, cansa de mim logo e pára com essa baboseira. É assim que funciona.

Vem aqui, mulher. Deixa eu te falar sobre o alerta. Deixa eu te dizer que quis te evitar a solidão, mas o outro caminho tava se mostrando mais bonito. Inocente porque não sabe que é. Vou te contar: as aparências enganam e o teu caminho pode te trair, assim como te atraiu.

Não se pode ter tudo na vida, na mesma hora. Eu deveria ter te contado essa parte. Certa vez eu quis e me arrependo até hoje sempre que olho as marcas deixadas. Talvez te contar disso te livraria dessas coisas dilaceradoras. Dessas confusões mentais. Dessas dores. Mas tu te segurou firme em um passado invalidado porque na tua idade - quanto mesmo? Vinte? - a gente ainda prefere manter alguém que sofra por nós do que usufruir de toda tranquilidade da cumplicidade acompanhada.

Tu tá sacando que essa carta não vai ser entregue, mas tem muito a ser lida ou dita? É estranho quando alguém não está preparado pra te encarar.

Ando na continuidade da reticencia em mim. Sou inesgotável. Tua jogada não me pegou, mas a tua teia quase me prendeu. Tu tá tentando ser melhor e eu até vejo, eu vejo que tá mas também vejo que não faz questão e esquece-deixa-pra-lá-vou-dormir-que-passa. E aí tu te conforma com esse punhadinho que te deram. Mas eu... e eu? Impossível não existe pra mim. Sou flecha certeira no alvo. Bateu, marcou.

Tô blindada, eu disse. Sabe diamante? Que não tem valor quando ainda é bruto mas mesmo assim corta tudo? Ninguém me marca, ninguém me risca e nem quebra, só vão passando. Tô ficando lapidada pra cacete. Sabe coisa rara? Eu tenho entrado nessa. Todo mundo tenta, difícil é quem consegue chegar lá.

Agora? Agora eu tô saindo do corpo, voando de mim pra mim. Se eu tivesse que falar qualquer coisa pra já seria algo do tipo: te cuida aí que tem muita armadilha e tu nunca vai ter certeza de quando tá por cima, no controle. Só não fica atordoada porque eu sei, sei bem que lidar com a minha leveza não deve ser fácil.


...uma casa onde moram os corações cansados de não amar?



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