quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sobre Beijar Nas Pontinhas Dos Pés

"Se acaso você não possa

me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração." 


Ela me veio com olhos de sono, vestia um vermelho reluzente com preto, era alta, linda, com os cabelos escorridos e negros. Eu, tonta, não apostava nada nisso. Ela, nervosa, mantinha as mãos geladas durante o filme, ou talvez dentro do saco tamanho M de pipoca doce com um gosto de caramelo ou chocolate. Eu não a conhecia. Ela não me conhecia. As três primeiras palavras ditas por ela me arrancaram sorrisos e uma cabeça abaixada de vergonha.

Ela chegou com a voz suave, um sotaque lindo e as mãos tão bonitas que eu poderia segura-las por um bom tempo. O perfume exalava, daqueles que não se quer esquecer. E a cada dez palavras, me arrancava mais uma gargalhada.

Eu, coração duro, já não tinha noção do que era conhecer alguém e querer manter isso. Sem pressa, sem pular etapas, sem atropelar algum momento importante. A paciência do sentimento que se forma de alguma maneira, seja qual for ele, na gente. A paciência de construir as coisas leves, sutis. A delicadeza de alimentar, manter e fazer crescer.

Ela me beijou numa sala escura de cinema em um dia de maio e, depois disso, pegou a minha mão - mal sabe ela o quanto eu gosto que peguem as minhas mãos. As minhas quentes, as dela geladas. Foi ali que eu desejei abraça-la e dizer: fica nervosa não, provavelmente estou na tua mão.

A conversa nunca parou. O tempo, sim. Era como se uma coisinha muito pequena acabasse de ser plantada num órgão já estático do meu corpo e aí eu voltei a sentir de novo. O que, exatamente, eu não sei, mas sorrio todos os dias desde então.

Ela de ar, eu de terra. Ela de água, eu de ar. Ela de ar, eu de água. De vez em quando eu sinto uma vontade de abraça-la com força, num abraço demorado onde eu sentisse todos os cheiros possíveis que podem existir numa moça. Mas ela já disse: nada de ir muito rápido. E eu consenti com o pedido.

Acho que além das mãos, foram os olhos que me encantaram, ou talvez os dentes alinhados, ou tudo o que a faz linda como é. Ainda não descobri, mas gosto do jeito que me olha, um jeito ainda indecifrável. Gosto da forma que me beija, com gosto de doce infinito. Talvez ela nem tivesse a pretensão de me conquistar, grandíssimo erro de percurso! Parece que as coisas me encaminham pra isso, esse encanto.


Eu não sei o que está por vir, não sei como a vida vai dar as cartas. Essa coisa de gostar, de querer bem, eu nunca soube de onde vem. Mas hoje, exatamente nesse tempo, o que eu mais queria era arrancar suspiros e morar no pensamento dela tanto quanto ela arranca meu riso e se torna parte do meu dia. Uma parte que - como se diz? - a parte bonita de espera e saudade. 

"Se no coração não possa

por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar." 

2 comentários:

Anônimo disse...

Queria saber me expressar assim. Impecável!

Rafa disse...

Uma das coisas que me faz mais feliz e que tem sido motivo de minhas orações é te ver assim de novo...primeiro: escrevendo!, e segundo: amando essa coisa doida que é viver. Ainda tenho um ciúme tão grande e ao mesmo tempo rezo pra tudo dar tão certo que tu nunca mais precise saber o quanto já deu errado antes...Amo tu pequena. Um beijo com carinho.