sexta-feira, 1 de abril de 2016

Quando As Pessoas Perdem O Sentido (E Eu Os Sentimentos)

E foi assim que aconteceu: enquanto eu passava por um corredor a Paixão, cheia de sangue nas mãos me gritou: vadia! Tem que pagar pelo o que fez! Olhem esses olhos! São os olhos dela! É ela quem ilude a todos e sai de cena como se nada tivesse feito, como se coração qualquer fosse de papel. Agora todo mundo já sabe quem és, louca! Falsa! Tua máscara caiu, e fui eu quem arrebentei com minhas próprias mãos de apaixonada que teve seu amor negado.
Enquanto respingava sangue pelas minhas costas e, ao virar-me, pelo meu rosto, pude observar facilmente aqueles cachos e olhos tão redondos e desesperados. A dor de não conseguir ser o centro do mundo estampada ali, nos berros daquela moça a qual agora me pergunto: será que tanto judiei? Sem prometer, sem dizer. E então contei que.
Não vou romantizar tua dor, mulher. Não vou rebaixar ou jogar teu sentimento ao vento. Nunca disse que era puta, muito menos me fiz de santa. Sempre fui Capitu e não fugi as comparações: desde os olhos de cigana oblíqua e dissimulada, esses meus olhos que o diabo me deu, até a questão da traição. Acontece que sem filho, sem casamento e até sem ter quem trair. Veja bem! Que história amaldiçoada! Já te iludir eu nunca fiz. Nunca fiz questão de plantar amor por ti ou cultivar. Nunca te falei nada olhando nos olhos.
Agora chega perto, mulher tão desgraçada da vida. Mulher que, sem felicidade, não aguenta que felizes sejam. E escuta bem o que os meus olhos tem pra te dizer: Eu, dona de mim, posso me dar pra quem eu quiser. Se dei um pedaço meu pra ti, que tivesse feito melhor proveito ao invés de guardar a paixão e transformar em rancor. Do teu rancor agora eu só trago o meu desdém e da minha saliva um cuspe na tua face. Do meu coração a pena de existir tanta carência em ti. Tu não consegues ser o que queres, tu te pintas como querem que sejas. Se houvesse alguma dignidade em ti seria essa: apenas a de pena. Agora limpa essa mão, segue essa vida assim mesmo: toda sem ser, toda sem saber, toda um nada. Tu ainda tens muita estrada pela frente e, se Deus quiser, vais aprender muito sobre ler algo e ouvir algo.

De outra parte da história já entra Bentinho. Mas um Bentinho tão perdido que de nada sei o que falar. Se abre a boca; fala besteira. É melhor mesmo quando resolve se calar. A cada passo que eu dou nenhum é para frente, só fico nessa aqui: cansada e parada deixando que ele mesmo retroceda de onde, talvez, não deveria ter saído porque já não consigo girar meu mundo em volta dele, que continua pensando que é astro rei, - enquanto tenho já uma rainha pro meu carnaval. Acusa quem não deve, defende quem não deve. Erro atrás de erro, perda atrás de perda e medo atrás de medo. Como pesar o acovardado na mesma balança de quem dá a cara a tapa? Injusto, muito injusto. E injusta é uma coisa que aprendi a não ser. Se chamo a Justiça trato logo de tirar venda, explicar o cenário e contar em detalhes ou tatear a coisa toda, ler em braile. Já não tenho o que falar de tanta insignificância que tomou conta de alguém que um dia pensei merecer meus maiores votos. Era meu amor e me doeu tanto que já não tem porquê.
Se hoje te escrevo aqui dessa maneira, é pra que ainda um dia possa te lembrar de algum jeito que não seja com muita dificuldade, pois aqui está a forma que tu, que um dia fostes minha Rebeca, que agora és só Bentinho, ficastes pra mim: egoísta a princípio, talvez manipulável, um pouco covarde e o resto é resto.

Vão-se os amores e de nada adianta mais os lamentos. De cada lamentada que existiu, um novo amor surgiu, sem paixões loucas pra estragar, ou qualquer fruta podre que pudesse agourar. 
Que seja doce esse encontro! 

Um comentário:

Anônimo disse...

Aquele ali morreu, mas as pessoas se doem tanto que parece que não. Qualquer desculpa pra jogar em cima de mim ou dela, do que algum dia eu e ela fomos, de que o que eu ou ela deixamos de sentir ou sentimos, é jogada. (Reparem bem que não uso “nós”, porque eu + ela talvez seja explicito o suficiente para entendimento de todos vós).
Não deu certo comigo? Culpa dela. Culpa daquela outra lá. Aquela invejosa. Os erros são desconsiderados, a traição , a falta de caráter, manipulação, qualquer coisa além de mim ou dela, qualquer coisa feita pela “ela” dela ou pelas minhas “elas”. Aliás, Bentinho não foi feito pra ninguém que não Capitu, Talvez não tivesse entendido a história. Eu, como personagem que nem bem apareci na história narrada por Casmurro, entendi.
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O desespero de quem tem a máscara arrancada é mesmo de tal maneira a tentar arrancar uma máscara de outrem que não existe. Cravasse tuas unhas debaixo do meu queixo, tentando arrancar da minha garganta meu passado. Capitu. Não imagino a frustração de quem tentou me arrancar da face o que não existia. Algumas gotas de sangue foram o que bastou pra que eu fechasse uma ferida aberta do meu passado (um passado que não envolve tu, Beatriz, nem Bentinho, mas obrigada pelo empurrão involuntário)
Arranquei tua máscara mesmo. Manipuladora, falsa. Meus olhos arianos se desesperam com injustiça, com traição . Pensei que soubesses mais de signo do que isso.
E ainda assim, debaixo do sangue todo, procurasse qualquer pedaço de plástico que fosse pra cobrir teu rosto, porque tu nua não tem nada mais que preste muito. Capitu. Capitu? Beatriz .
Tão mais Atriz do que Bea que de repente mensagens minhas de “não te quero na minha vida” se tornaram vontade minha de ser o centro do mundo. Minha pergunta “você não está namorando?” seguida da tua recusa se tornou falta de aguentar a felicidade alheia. Como eu não haveria de aguentar felicidade que não existe? Ah sim, existe. Claro que existe. Existe tanto que apesar de pisar em ti, tu correu atrás de mim. Correu atrás de mim porque tavas satisfeita e feliz. Entendi. Capitu. Acho que talvez tenhamos conceitos diferentes de felicidade. A minha felicidade eu não nego aos outros, e eu feliz, não corro atrás de migalhas emocionais. Existe carência maior do que correr atrás de migalhas emocionais, Beatriz?
Será que a idade e o caminho a mais trazem discernimento a todos mesmo? Ou talvez só a quem aprende a sentar e ouvir ao invés de mendigar aplauso?
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Nunca fui apaixonada por ti. Tão verdadeira afirmação quanto a de que você foi dissimulada. Bentinho teve dúvida da traição de Capitu, mas a de Beatriz foi provada com palavras da mesma; procura bem aí em qualquer registro teu (além da tua cabeça) momento em que eu tenha afirmado minha paixão.
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Agora, nunca fostes Capitu. De alguém com discurso machista, não se espera que haja entendimento da atual interpretação da obra de Machado de Assis ao romance de Dom. Não sei se sabes, a história é contada do passado (o que já a torna duvidável), por um narrador não-confiável, de uma impressão do marido a amizade da mulher em uma época muito mais machista que a atual. Capitu nunca traiu Bentinho. Aliás, o tal Bentinho que tu diz, ainda não encontrou sua Capitu dos olhos de cigana oblíqua e dissimulada, apesar de ter encontrado uma garota oblíqua e dissimulada. Já Beatriz, essa traiu.
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De mim mesma, só essa resposta ainda te dou, para que talvez algum dia haja sobriedade nos teus pensamentos. Só vejo contradições, o tempo inteiro.
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Espero que não faltes tuas aulas de literatura mais, nem as aulas que a vida tens de dado. Talvez assim aprenda a agir como 26 e não como 16, que é o que tens feito. Beatriz. Atriz. Tentas ser o centro de tudo, mas já apagou-se a luz do teu palco. Apesar de tudo ainda tentas ser o centro do mundo. Teu show já foi sucesso, hoje não mais. Uma hora as cortinas fecham e tudo o que sobra é o eco do aplauso. Espero que algum dia voltes ao mundo real.