sábado, 26 de dezembro de 2015

Meus Olhos Já Não Nos Salvam Mais, Rebeca


"Vamos, vamos logo subir essa escada que leva o amor ao último andar.

Estamos descalços e o mármore gela os nossos pés. 
Sobe pelo corpo o tremor do castelo que desmorona."

E foi assim, Rebeca, que a gente se conheceu: num 14 de maio de sabe-se lá que ano, tinha muito vermelho, muito preto e muita vontade. Os dentes batendo, as mãos tremendo e eu te mirando com o canto dos olhos. Conheceu, não. A gente se viu a primeira vez. Eu recusei aquele café, corri pra pegar a sessão das 17 e pouco e aí te vi chegando devagar. Não parece nada com cena de filme, né? Tanta gente faz isso. Mas no dia anterior tu havias sumido e eu já nem pensava mais em te encontrar. A esperança nunca deve morrer mesmo.

"Então vamos, segura firme no corrimão. 
Respire fundo. Subir tão alto dá vertigem e olhar para trás deixaria-nos cegos.

Os erros são medusas intransigentes, arrancam as nossas lembranças boas e tatuam os desaforos e mágoas."

Depois vieram todas aquelas coisas de carinhos e beijos. As indecisões, os medos. Por que a gente teme o amor? A gente já começa a não se entregar com medo do tombo. Eu só queria te abraçar forte e dizer, na ponta dos pés, sussurrando no teu ouvido, qualquer coisa como: a gente se gosta, a gente pode se cuidar. Confia em mim que, mesmo que dê errado, a gente emenda e faz dar certo de novo. O amor é uma colcha de retalhos, cheia de histórias em cada ponto dado. A nossa não seria diferente.

"Para ir até o fim da paixão deve-se estar acompanhado. 
Sinta o meu perfume enquanto o vento do tempo sopra esse bafo de mudança. 
Se quiser, dou-lhe o braço."

O dia em que me buscastes na saída da aula, Rebeca! Nesses dias eu acrescentava mais um motivo pra lista dos porquês de amar a minha pequena. Eu era a mulher mais feliz do mundo em tempos escassos para o amor. E tu me segurava pela mão enquanto íamos pra casa, fazendo mil e um planos, mirabolantes ou não, mas dos mais doces e nossos. O caminho pro lar era cansativo, mas recheado de sonho.

E dormíamos, e mudávamos de posição, e saíamos, e ensaiávamos coreografias nossas – e só nossas – na balada. E eu te olhava fundo, bem fundo! E te dizia que te amava. E desde que eu consegui dizer a primeira vez, tagarelei sem fim! E viajamos, tivemos crises nervosas – eu de riso e tu de ar – dentro do avião. E depois rimos disso! Ok, talvez tu não tenhas rido tanto. E assistimos os Hermanos cantando pra gente, assim, como se fosse tudo nosso. E tu sabias lidar com a minha fome, a minha TPM, o meu copo de água com gelo ao lado da cama. E eu acordava pra te dar café da manhã e um beijo de “bom trabalho”, mesmo meio zumbi sempre. E tomávamos nossos banhos cheios de beijinhos de sabonete, nunca esquecendo de lavar atrás da orelha. A gente parecia se amar pra sempre.

"O nada não inspira, não treme os sexos, não dá calafrios, nem ciúmes; 
Não cria o ódio, nem teme o abandono. 
Ali você poderá descansar sem culpa, remorsos, sonhos estúpidos."

E aí aconteceu. Desabou dentro de mim uma lasquinha, depois outra e outra e quando eu vi os meu olhos teus já não eram mais um feliz e um triste, eram dois olhos vazios, que olhavam para o nada, buscavam nada. O que eu poderia fazer por ti? E os teus medos de ser machucada, eu despertei todos eles e disse baixinho, mas ecoou: fujam de mim! Os meus olhos são perigosos. E meu coração está doente. E então eles fugiram e eu fiquei aqui, arrependia, mas certa que era o melhor a fazer. Alguém tinha que ser feliz.

E agora existe o desencontro. A ressaca do meu mar te quer de volta, meu olho feliz, mesmo que chore, te sabendo bem fica alegre. Teu rio, calmaria, já não quer mais voltar, Rebeca. E quem sou eu? Quem sou eu pra dizer o contrário? Um mar com cor de terra, preguiçoso, vagaroso, que só queria te amar. Que só queria que fosse, que desse, que mesmo sem estrela cadente as coisas se realizassem. E tu, tão límpida, tão calma, tão decidida, e já seguindo tão em frente também já sabes o que queres.

"Amar proibido é muito. Causa tanto estrago...
E por isso, por tudo isso, vamos!
No final devo pedir perdão por tê-lo tocado."

Quando nos vermos de novo a minha cor de cabelo já não vai ser a mesma, o jeito que tu te vestes também não. Ter-se-ão passado mais de seis meses e provavelmente te encontrarei com os dedos entrelaçados aos de uma outra moça. Talvez de cabelos mais lisos que os meus, mais claros, mais alta, mais nova? Não sei. Mas 6 meses é uma porção de coisa na vida de uma pessoa. Talvez a gente nem se veja mais, vai saber? A gente não sabe do futuro.

"Agora pode largar a minha mão. Pode partir.

Lembre-se ou esqueça-se de mim."

O que eu queria dizer mesmo é que se um dia te tive alguma coisa além de amor, foi saudade. Talvez uma pitada de ciúmes. Hoje em dia um pouco de inveja de quem rouba teu tempo como eu ocupava um dia. Mas que você, Rebeca, “você foi o melhor dos meus planos e o maior dos enganos (o melhor engano) que eu pude fazer”.

"Coração quebrado tem cura: 
a paz de não precisar mais aguardar a perfeição que não existe."

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, qtas surpresas nos tem proporcionado esse fim de ano. Até que 2015 não foi de todo ruim. Obrigada!

Bianca B. disse...

Não entendi ao certo o comentário, mas que bom que 2015 tem sido surpreendente, ao menos agora no fim! E eu quem agradeço a visita.