"E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."
Tu sabes o quão patética eu sou, a ponto de acabar de perder as palavras que estavam na ponta dos meus dedos. A ponto de hoje ser uma mulher e ter um homem ao meu lado que sussurra o que eu escrevo por aqui. Já não sei ao certo qual meu nome, minha idade, meu sobrenome, mas vim aqui te escrever pra te contar quem sou hoje: 18/07/1963.
Como diz esse poema - em inglês - que mal entendo: Caso me esqueças, quero que saibas uma coisa. E é aí que começa. Caso me esqueças, quero que saibas que aos poucos, lentamente, com a sua falta de presença, eu também o esquecerei. Caso, talvez, me esqueças, eu abandonarei toda aquela ilha que tínhamos como nossa e nadarei para a beira, e no caso de eu não ter ainda aprendido a nadar, construirei uma jangada e remarei contra as ondas até sumir no final de uma linha que partirá ao meio meu corpo e me fará duas.
"If you suddenly forget me
Do not look for me!
For I shall already forgotten you."
Não leve isso como um súbito e momentâneo caso de eu estar implorando, não estou. Estou te dando a oportunidade de amar tudo de bonito que há em mim enquanto ainda cultivo pequenas e frágeis raízes, pois sou nova e tenho experiencia alguma com loucura ou amor. Talvez muita. Ama-me como se não houvessem outras além de mim e como se, no amago, eu fosse apenas uma.
Saiba que amor se alimenta de amor e o meu tem se alimentado do teu. Percebes? Se me deixas, eu te deixo. Se me abandonas, eu te dou as costas e parto. Eu já deixei muitas pessoas ainda as amando e, enquanto as amei, elas me amaram.
O tempo varre as poeiras do coração e, vez ou outra, não deixa uma lembrança sequer. Meu coração já foi negro, já foi gelo, já foi pedra. Coração que se camufla é difícil de lidar, mas com doçura e delicadeza todas as coisas voltam pro seu devido lugar e eu renasço.
Já não busco o alívio da liberdade solitária. Já não quero todos os corpos passando pelo meu. Eu quero a eternidade e a beleza da força e persistência de não errar mais.
Acabei que, por medo ou falta de atenção, falei de nós e falei do amor, mas não te contei de mim porque espero que descubras comigo.
"Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria."
4 comentários:
Eu introduzo a leitura com a ideia de que cada texto teu vai ser o melhor que já li em minha vida. E dá certo! A leitura corre escorregadia e livre, pra combinar mais com tua escrita penetrante.
Você subestima a ideologia dos demais escritores. Simplesmente demais!
Madrinha das palavras!
Ai, Bianca...
Postar um comentário