segunda-feira, 14 de abril de 2014

Vem Nas Ondas Do Meu Mar

Para ler ao som de Céu - Chegar Em Mim

Como peixe que mergulha fundo em oxigênio, eu a perdi. Não sei o momento certo em que ela deixou de ser das minhas águas, não sei nem se morreu afogada. Ela mergulhou fundo, no âmago do âmago de uma onda ou outra e eu, que não sei nadar, não fui atrás. Ou fui, mas ela já não me olhava mais, nem respondia aos meus pedidos.
Ela era simples. Simples demais. Não tinha nada que a fizesse ser indecifrável ou complexa. Ela era confortável, confiável. Tinha os olhos pequenos e que brilhavam. Se eu pudesse, daria todas as estrelas do céu à ela. 
Certo dia, enquanto eu dormia ao seu lado, acordei com muito calor. Ela me olhava quieta, mansa. Com a voz calma me disse: teu sono estava agitado, percebi pelos espasmos. Antes disso, conversamos a noite toda e, quando saí do banho, ela me chamou para ver o nascer do sol. O tempo não passou, o tempo voou na companhia dela. Nunca existia silêncio, e se existisse, não nos era incômodo. As horas passavam em par.
Ela é um pouco estabanada. Tudo o que toca estraga, e deixou a pipoca de microondas queimar. Eu não me importei, parecia que me alimentava de sua presença.
Algo nela me doía muito! Talvez os braços, muito finos e frágeis, tatuados, lindos. O perfume que usava era uma maçã, reparei enquanto se arrumava em minha frente. Ela foi a coisa mais linda que meus olhos já viram com seus colares de pedras no pescoço. 
Não tentou me seduzir, como sereia que é, como frágil rapaz que sou. Mas dentro de mim, e no meu coração, eu já remava contra a maré do ondulado dos seus cabelos negros pela cintura. 
Eu a amei dormindo, a amei acordado, a amei de longe e de perto. Eu a beijei em pensamento e a acariciei na vontade. Sonhei noites e noites com ela, e ela sempre me salvava de algo, mesmo muda, mesmo quieta. 
Combinamos, certo dia, de salvarmos o mundo juntos. Ela viria morar bem perto de mim. Sereia foi a única possibilidade de amor que cogitei em tempo de seca e desilusão. Quando eu já não era feliz, ela me deu sorrisos. O destino me presenteou com o perfume do seu corpo lindo e os dedos leves em meus cabelos emaranhados.
Ela não sabe, mas foi minha ondina preferida. Mas agora Sereia parte e ganha o mundo, sem promessas de voltar. O meu pedido à ela? Que comprasse luvinhas.


"Encontrei um lar em seus sonhos; por favor não desperte"

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