sábado, 26 de agosto de 2017

Natalie, Com Amor


Em canto algum se procura amor porque não são em cantos que o encontram. Em beco nenhum achei paixão ou qualquer sentimento que resgatasse fé ou me desse pé na profundidade de tempo. Eu não sei nadar, nunca soube e nem me esforcei muito. Em mares muito fundos me afoguei, em rasos nem entrei. Eis que mais um começo se inicia e isso lhe parece repetitivo? A mim não.

A gente sempre diz que quem procura acha e sempre fala que nunca estamos buscando por algo quando, na verdade, estávamos numa procura incessante por tal coisa. Pois dessa vez eu nem queria e nem deveria. Pois pra quê? Pois por quê? É tão óbvio quando já se tem cicatrizes desde o dedão do pé até o fio de cabelo não querer se meter mais em encrenca. É tão óbvio quando um sentimento passa ser considerado isso, só isso. Mas como a vida não obedece, lá vai a gente, mesmo no raso, na areia seca, olhando na miopia, longe no azul misturado de céurizonte, perdido contando ou catando concha pra jogar de volta na água. A gente sempre tem que ficar na beira do que é abismo pra gente e, em quesito de água, o mar é abismo pra mim. A onda vem e molha o pé, e tudo bem molhar os pés em dias de calor e até mesmo nos mais gelados. Tudo bem.

Tudo isso não seria isso se não fosse pra falar não em mim, pois nada sou além de um reles mortal perdido no mundo sem eira nem beira num drama profundo, mas sim sobre pessoas que caem de árvores durante manhãs pós noites de temporais e mudam a semana, o mês e, por que não, o ano? Tipo anjo com fala mansa e sotaque bonito de lugar que lembra barulho de trem na infância. A gente se encanta por cada parte e peça e nada faz sentido e nem precisa saber. É como se já houvesse uma playlist inteira montada pro momento, e um destino inteiro desenhado. Mas e se? E daí?
Eu já sou tão old e surrado e ela diz que me admira. Mal sabe que até ciúmes eu já senti. Já tive vontade sair da minha cama e ir dormir na dela no meio da madrugada, o problema é que Natalie mora do outro lado do mar, onde o sol se põe pra aqui nascer e lá nascer luar. Não é pra tanto. Nosso céu é exatamente o mesmo, dormimos no mesmo horário, acordar é que é difícil. Um doce pra eternidade ou um beijo na realidade? Tateando no escuro a gente se encontra mesmo nos caminhos dos sonhos e a luz renasce!

Não foi preciso que te desse a chave, bastou que teus passos lentos e macios e alguma música baixa no fundo tocasse pra que, quase imperceptivelmente, tu entrastes em meus dias. Cabelos lisos aos quais eu não toquei, um cheiro ao qual não sinto. Nossas mãos engolindo uma a outra e seus lábios exatamente como veludos, aqueles aos quais não beijei. Alguns sentimentos ainda não posso textear, mas sei do amor que terei a ti. Um amor devoto, um amor puro. Quero poder conseguir contar exatamente os detalhes de cada chegada e das permanências. E desses vislumbres que eu, homem incerto na vida, tenho ao te olhar. Agora mesmo: te olho e teu sorriso cega boa parte de todo o resto do mundo. Sei aqui que não te amo. Não apenas. E tudo bem molhar os pés. O problema é que a onda do amor é tsunami. E o que sinto ainda é impossível de transpor para cá.


"Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos."

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