sábado, 5 de dezembro de 2015

Apaixonar-se É Perder O Medo Do Invisível

https://www.youtube.com/watch?v=g35zS1tVO3o


Basta pensar um pouco, remexer uns envelopes, vasculhar alguns e-mails antigos e pronto: todas as memórias de poucos amores bonitos, embora doloridos, ali guardados de um jeito carinhoso e cheio de saudades num lugar sem esquecimento.

Enquanto relia os e-mails, encontrei um que dizia: como sabias que eu que as tinha enviado? E na mesma hora me veio a lembrança da cesta enorme, com muitos vasos dentro. Vasos de cíclame, violetas e tudo o que se possa imaginar. A explicação dela? Mandou por impulso, queria ganhar um sorriso meu e mal sabe ela quantas horas eu fiquei olhando pra aquelas plantinhas. E depois, quantos dias e meses eu cuidei de cada uma delas. O inverno veio, mais de um, e eu talvez não tenha dado conta de cuidar tão bem assim nem do amor, nem dos vasinhos, mas nós continuamos aqui, uma em cada estado, na esperança do quem sabe? Do – pode ser que um dia vingue? A gente já se amou tanto nessa vida, quem pode adivinhar o que o futuro guarda? – e a espera nunca termina.

Já num outro dizia: Só por favor, não desiste da gente. E dois anos depois eu desisti. Desisti porque não tinha mais a vontade de fazer alguém feliz e, sem vontade, não existe capacidade. Covarde, mesmo amando e sendo amada, desisti pra que ela tivesse o amor que merecia. Ela nunca me esqueceu e eu nunca a esqueci e até hoje, quando fica tudo escuro, ainda corro pra aquele colo que foi o único que não me deixou, que não desistiu embora eu me abrisse e, sendo clara, bem dizer transparente, mostrasse todas as insanidades que eu tenho sem omitir nada. E tive crises e xinguei e briguei e a fiz chorar e mesmo assim ela me amou. Me amou pele e osso, carne viva, cicatriz, quase morta. Me amou hematoma, falando demais o que não deveria nunca ter dito, beijando um cara na frente dela. Ela foi minha amiga, minha paquera, meu cuidado, minha namorada, minha noiva e minha mulher. Ela disse que tudo valia a pena por mim, mas cada palavra que ela dizia, era o espelho dela.

Houve uma a qual me buscava em casa e me levava até um trapiche onde a gente sentava pra ficar olhando as ondinhas. Ela me deu quadrinhos dos Peanuts com uma das páginas marcadas com uma história do Linus, livros da Frida Kahlo, Caio Fernando Abreu, maconha, ombro e muita cachaça. Ia até a minha casa só pra me ver, porque nem sempre eu tava 100%. Na verdade quase nunca. E aí as vezes ela me beijava e tudo passava. Tinha os olhos mais lindos que eu já vi, castanhos e grandes. Liguei algumas várias vezes pra ela dizendo – não quero mais ser tua amiga, nunca mais! Entendeu? – mas até hoje ela é minha virginiana preferida, que me faz falta, que nunca dormiu na minha casa, que se arrependeu de ter feito o que fez um dia antes, porque um dia depois me conheceu. Ainda bem que tem a vida toda pra gente voltar atrás e se arrepender.

Teve uma mocinha loura também, pisciana, com os olhos mais azuis do mundo. Ela vinha todos os finais de semana me ver quando eu fiquei três meses sem poder sair de casa, e aguentava a minha insônia babando no sofá da sala enquanto eu ria de algum filme bobo na televisão. Ela cantava bonito, tocava violão e achava a minha sopa a melhor do mundo! Me chamou de anjo por muito tempo. Mal sabe ela que quem foi salva fui eu. Nunca a chamei pelo primeiro nome, sempre achei o segundo muito mais meu e dela.

Aos 16 me apaixonei por duas irmãs, aos 26 por uma professora. Era assim: Sagitário, Touro e Leão. Algumas de Câncer, uma Ariana escritora, uma Ariana atoa, Peixes é o que não falta nesse turbilhão. Aquário, lembro de duas ou três que não fizeram questão de ficar, preferiram admirar a lingerie branca e a cara de ninfeta. A de Leão tinha 1,82 e namorava com a de Libra, que namorava com mais umas três além dessa e além de me beijar as vezes. Aliás, me apostou em um joguinho de fliperama.

E tem as que não lembro, ou as que guardo muito no fundo que dá até ciúmes de contar, mesmo que seja só um pouco, só um pouquinho, como foi a primeira vez que andei de avião, só pra conhecer o amor de verdade lá longe, longe mesmo, seis anos depois de já saber que ele existia, lá pros lados de Minas Gerais. 

"Tu
que tens um nome,
tu que tens uma identidade,
Amo-te um amor indefinido."

Um comentário:

Anônimo disse...

Sempre quis ser dessa sua lista, sempre quis ser a menina dos teus olhos. Ah! Me pintei de todas as cores - que só existem porque você dá luz ao que te cerca - pra te chamar atenção, pra ser alguém diferente de todas as que passaram e por algum motivo injustificável, não ficaram. Eu ficaria se você quisesse, eu ficaria pra sempre, traria almoço na cama - já que você não acorda suficientemente cedo pro café da manhã -, mas aos poucos eu te cansaria ao decorrer do dia pra regular seu sono, pra regular sua alimentação e aos poucos regular todo funcionamento natural do seu corpo, eu retardaria sua dor e prolongaria sua vida. Abriria a porta do elevador pra você entrar, te levaria nas costas caso o elevador não tivesse funcionando. Eu te salvaria se um dia o mar fosse grosseiro contigo, te salvaria de ladrões, furacões e águas vivas, ex namoradas, temporais, alagamentos. Do medo, da angústia, da solidão, da dor do coração. Te levaria correndo pra faculdade caso um dia você se atrasasse, te defenderia de todo mal, te resgataria de todo abismo particular que às vezes, sozinhas, nos afundamos.
Sempre achei que nunca tivesse chance contigo e talvez eu esteja certa. Que bom que aprendi a amar e entendi que nele o que se prevalece é a admiração, 700 km daqui ou a milésimos de segundo perto, como estive a pouco. Será que a vida me impressiona e um dia os nossos caminhos se encontram? Afinal, porque é que você apareceu e principalmente permaneceu na minha vida? Eu aqui e você aí, eu de standby, de estagiária, te observando e fazendo anotações, buscando ser quem você gosta. Sei que isso tudo só me afasta mais. Sei que tudo precisa ser natural e as coisas acontecem quando tem de acontecer.

Promessas são vãs, nunca te fiz nenhuma, não quero te convencer que seria diferente comigo, mas se for pra falar algo bom, deixar algo bom: sempre vou lembrar daquele seu olhar.

Os sonhos sempre vão existir e você também continuará existindo neles. Nos meus.