sábado, 28 de novembro de 2015

Uma Carta Do Meu Peito Inquieto

Escrevo essa carta e já não lembro mais meu nome. Se a escrevo é porque algo me impulsiona, ainda, a ir até ti. É porque ainda tenho alguma coisa a te falar. E dessa vez, Rebeca, eu venho de cabeça baixa, cheia de vergonhas e dor no coração.

Meu amor é teu
Mas dou-te mais uma vez

A minha promessa era de segurar forte a tua mão quando fossemos fazer isso. Iriamos juntas, enfrentaríamos uma barreira, um rio de lágrimas, um mar de negações até chegar em um céu de abraços e carinhos e aceitações. Mas eu não pensei, Rebeca. Eu falei que não andava pensando, e agora eu tou aqui cheia de dor e culpa em cada parte que existe em mim. É um arrependimento que eu nunca vou saber como superar, e realmente não espero, por castigo e como lição.

Passo essa canção pra te acalmar
Esteja morena, você onde estiver

Hoje eu já colho o que ontem mesmo eu plantei, e não foi nada de bonito ou que prestasse, foi pura maldade e rancor, orgulho ferido. Eu, que nem sou dessas coisas, deixei subir a paixão, essa coisa supérflua, e o egocentrismo até me cegarem, ensurdecerem e eu sair, louca – e admito -  escrevendo e escrevendo, mesmo que algo como gratidão, porque sim, ali existia muito elogio e gratidão, mas existiu o veneno e ainda contava algo que eu não tinha direito algum de ser a primeira a falar. E agora tu nunca vais me dar o teu perdão, Rebeca. Já são dois perdões, isso só dos que eu imagino.

Eu, que sonhava uma vida contigo, que construí nossa vida juntas, que já pensava em um pedido de casamento – e não tava tão longe assim, porque já te queria pra vida -, na decoração do apartamento, todos os filmes e livros e instrumentos que teríamos. Os nossos sábados enfeitados de música e poesia, talvez eu me inspirasse te vendo, linda, tocando violão e fazendo gracinha, e escrevesse um livro só sobre os nossos finais de semana. E aos domingos sairíamos sem destino, pra chegar em lugar algum e ficar admirando qualquer coisa.

Meu bem
Saudade é pra quem tem

E eu aprenderia a fazer doce de abóbora, e tu engravidarias, e viajaríamos nas férias pro interior. E depois pro exterior. E as vezes brigaríamos, mas sentaríamos e nos desculparíamos, assumindo cada uma seu erro. E correríamos atrás da nossa criança de cabelos cacheados, cheia de fraldas. E iríamos à praia, ao parque, ao bosque, ao centro, ao extremo do mundo. Eu iria ao extremo do mundo por vocês, mas a minha arrogância e infantilidade te afastaram de mim, eu já não tenho mais o que fazer. Sinto que, junto com o que a gente era, eu acabei definhando também. Abatida, cansada, imprestável, sabe? Desnecessária.

Eu joguei o presente no vento, resvalei no passado e me afobei no futuro. Espero que, um dia, quem sabe, o meu erro seja a solução pra alguma coisa. Ah, Rebeca! Faltava tão pouco, e só nos faltou paciência, conversa, tempo e compreensão porque amor a gente tinha, a gente teve exalando por aí, de dar inveja em casais perfeitos.

Serial killer do amor, é isso que eu sou. Sempre matando aos poucos. Mas agora vive! E vive feliz! Porque te amam, porque és maravilhosa, porque te querem bem.

Achada no peito de um outro protetor, ou solta
Que a gente na vida foi feito pra voar.

De longe te cuido, saudosa daquele cheiro, na voltinha do pescoço, sabes? Aquele teu cheiro. Vou te guardar na lembrança com todo carinho e amor. Espero que tenhas gostado das flores, é claro que não mudaria a situação. Acho que fiz mais por mim, pensando em como eu ficava feliz em te levar flores, e em como ficavas envergonhada. Deus!, como eu te amo, pequena! Imaginei teu sorriso, que não deve ter existido, porque nem todas as flores do mundo te fariam me perdoar ou voltar atrás dessa decisão.

Me aventurei em um aquário, mas nunca soube nadar. A gente ama o impossível as vezes.

Já faz um mês e meio.

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