segunda-feira, 18 de julho de 2011

Presságio.

Corri contra o tempo, contra o relógio, contra o coração, contra a discórdia. Pedi um tempo, uma pausa de um, de dois. Toquei as cordas, enchi de cal meus dedos e as crinas. Quis tocar uma música qualquer que te fizesse voltar, lembrar ou só não esquecer do que é bom, de quem é bom, do que faz bem.
Em pouco tempo irão te sugar. Não serei eu. Estou livre, cara! Eu tô limpa dessa coisa toda que é a impureza de se doar a quem nem se tem.
Juntei os farelos, colhi as migalhas. Tem sido assim: você me vem com migalhas e eu me contento com o pouco porque vou juntando e, em algum tempo, isso vai virar muito. A gente tá aqui pra ver isso, pra provar isso.
Eu não falo dos dias ou dos anos. Isso não conta. Tem tanto amor aí de meses que vale mais. Eles só não sabem ainda que não é amor. 
E amor basta. Perto, longe, não importa. O amor sempre bastou e começou por aqui. Eu nunca fui de colocar pontos finais no que ainda não acabou, e você é reticente demais no meu coração como se cravassem, assim, tres ou quatro estacas, e deixassem jorrando o sangue até cauterizar, até ficar a cicatriz de ti.
Eu não lamento essa dor na alma e no coração - órgão - por ter te ferido nele. Por ter te marcado aqui. Eu não lamento as cicatrizes que ninguém vê, mas que eu sinto. Eu sei que tudo isso, cara, tudo isso vale a pena.
Você percebe que eu não te chamo de amor. Não tem um porquê. Eu tô sem motivos pra isso. Você veio me fazer rainha de ouro. Eu te fiz meu rei de copas. A gente não precisa de um valete no meio pra ser feliz. Na verdade ele só veio pra bagunçar, atrapalhar. Ou talvez veio pra me abrir os olhos de que eu sempre fui tua, cara. Eu sempre tive marcado, como boi bravo, teu nome na carne. E a carne dói.
Eu tô meio enforcada. Meio sufocada. Eu precisava te dizer isso. Isso que tá aqui e que não me deixa.
A gente começou com uma canção boba com as letras trocadas. A gente só usava a mesma melodia. Foi assim que nos conhecemos. Hoje a nossa história é samba-enredo de carnaval. Você é minha bossa-nova. Você é aquilo que se pede à Deus e não se diz adeus. É difícil partir quando não se tem nenhuma despedida.
Eu tô aqui, rezando e implorando, pedindo pra que você volte, cara. Oxum há de me ouvir. Ela cuida dos corações tristes e abandonados. Eu ando meio abandonada, meio largada. Mas você sabe, cara, que eu tô sempre aqui. Eu nunca te dei as costas.
Acho que eu ando meio doente. E dessa vez não é nada ruim que não passe. Eu penso em você e me vem uma dor de cabeça danada, mas eu não quero deixar de pensar e, então, eu tomo um daqueles bagos enormes que te prometem a cura e pronto, continuo com você dentro de mim.
Eu nunca pensei que fosse ser tão dolorido. Lembra aquela carta com a fala sobre as copas do mundo? Falta tres anos ainda. Eu não quero morrer tres anos em ti porque tenho medo de não ter mais forças pra voltar verde, com flores e vontades de continuar. Queria poder voltar agora, mas me pediram paciência e eu tô aqui, sentada.
Desculpa as flores. Não sei o que houve, mas eu precisava repetir o ato. Desculpa a falta de coragem antes. E o tanto explosivo, corrosivo, transbordante de coragem agora pra enfrentar todo esse raio, essa tempestade. Mas é que eu preciso muito te alcançar pra mostrar que o que mudou em mim foi isso: você crescendo aqui dentro e fazendo morada.
Eu, que já não tenho mais o que dizer, que já não quero ler mais nada, deixo aqui essa coisa toda que é sua e que você pode fazer o que quiser com ela. Assim como você fez o que quis com as rosas e lírios.

2 comentários:

Mariana T. Magalhães S. I. disse...

Primeiro comentário, talvez primeira reação boa.
Seu texto apesar de com o mesmo intuito, me pareceu mais feliz. E é daí que vem a melhora.
Você é tão linda, deve ficar linda sorrindo também! Continue melhorando sua alma, pra ti e para o mundo onde, poucos merecem prestigiá-la iluminada assim, com tendencias melhores e sempre mais coloridas e exóticas, como você.

Felicidade, felicidade.

Anseie.

lululul disse...

Já conheço os passos dessa estrada...
Teus segredos sei de cor.
Já conheço as pedras do caminho e sei, também, que ali sozinha tu vais ficar um tanto pior.
O que é que eu posso contra o encanto desse amor que volta sempre a enfeitiçar com seus mesmos tristes, velhos fatos que num álbum de retrato tu teimas em colecionar?
Aqui está tu de novo, feito uma tola, procurando o desconsolo que já cansou de conhecer...
Novos dias tristes, noites claras, versos, cartas...
Minha cara, volto a lhe escrever pra lhe dizer que isso é pecado! Carregar o peito tão marcado de lembranças do passado. E eu sei a razão.
Eu vou colecionar mais um de seus sonetos. Outro retrato em branco e preto que só machucam nossos corações.