segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

J.


"Trama em segredo teus planos, parte sem dizer adeus. Nem lembra dos meus desenganos, fere quem tudo perdeu. Ah!, coração leviano não sabe o que fez do meu."

Ela pediu que eu me aninhasse, que deitasse ao seu lado para que então pudesse zelar meu sono, cuidar do sono de quem se ama porque faz falta, porque sente falta de amar alguém que também a ame ali, do lado esquerdo da cama, do lado esquerdo do peito. Chegamos embriagadas, ela tirou a roupa, eu fui para o banho. Perdi-me no caminho entre os corredores que separavam o banheiro de seu quarto. Um labirinto, cheio de portas, cheio de voltas como o corpo dela. Ela me ama da maneira mais pura. Eu a amo de todo o coração. Atrasei-me com o fato de não achar o caminho e, quando cheguei, ela já dormia. Cuidei do seu sono, rezei por seus sonhos - sempre esquisitos, tanto quanto ela - e fechei as cortinas laranjas enquanto o dia amanhecia. Sentei na privada do banheirinho e, desesperada, chorei por duas horas até cansar. Logo após deitei-me ao lado dela com meus cabelos ainda molhados. A olhei mais um pouco: Deus!, como são lindos seus lábios um tanto tortinhos. Eu a conheço metade de uma vida. Tomei meu remédio e com o álcool adormeci.
Durante o sono cambaleei. Fazia calor pela manhã. Levantei, abri a porta do pequeno apartamento sem me importar se os vizinhos iriam nos ver ali. Abri as janelas pro ar circular. Ela pediu pra que eu me cobrisse um pouco para ninguém ver o que não deve ser visto. Obedeci.
Meus olhos vezenquando abriam e eu a via. Já não estava ao meu lado direito e agora se encontrava na cadeira, concentrada em não-sei-o-que além do computador. Fechava meus olhos e abria de novo. Ainda não era hora: eu não conseguia me manter acordada. Estava pesada, triste, cansada de mim. A olhei novamente: mesma posição. Puxei seu travesseiro e o coloquei entre as pernas, virei de lado com a minha camisola rosa-bebê com flores cinzas - eu adoro cinza - e fiquei de um jeito em que ela conseguia me olhar dormindo. Os cabelos emaranhados, a boca entreaberta.
Acordei eram tres horas passadas. Pedi água, ela me deu. Pedi as horas, as recebi também. Eu queria mesmo era um abraço eterno. Ela precisa de mim, eu preciso mais dela. Sentei-me na cama e perguntei o que fazia. Disse-me que conversava com amigos e puxou uma folha. Olhou-me séria, um tanto tímida, ainda com o pijama - a velha camiseta com cavalos desenhados - e disse baixinho: a desenhei dormindo. Prometo melhorar depois. Entregou daquele jeito mesmo: um rascunho exato, sem nada a ser mudado mas que ela, crítica que só, queria mais, queria o perfeito. Ela me faz perfeita, me fez perfeita. Perfeita aos olhos dela: o cabelo mais bonito, a cintura mais acentuada, os olhos mais tranquilos, os cabelos ondulados, as coxas grossas e o travesseiro entre elas. Olhei e tive vontade chorar e dar o abraço que desejava, que desejo. Desejamos. Mas só agradeci assim, de longe, na minha frieza, sentada na cama e ela na cadeira.
A vizinha chegou.


Ela me ama e eu a amo. Disso eu nunca tive dúvidas.
Estou onde meu coração me pediu para que eu viesse pedir asilo.



Com amor, com açucar.


"Este pobre navegante, meu coração amante, enfrentou a tempestade no mar da paixão e da loucura fruto da minha aventura em busca da felicidade. Ah!, coração, teu engano foi esperar por um bem.. de um coração leviano que nunca será de ninguém."

4 comentários:

lululul disse...

Uma chama-se Lulu e a outra Jolie(Não ria) e aí quando eu acordo, esforço-me pra ver o desenho sob a cabeceira da cama e lembro-me que nem o móvel eu tenho heiuheiuae
E essa é a parte doce do começo da realidade... Ainda bem que tou de férias e posso dormir o dia todo!

lululul disse...

Tornou-se lindo por que virou memória e uma memória sempre é linda, sempre dói menos e sempre trás um sorriso no canto da boca, por que é passado e não existe mais.
E Deus, ele permite que a gente sonhe, que a gente sonhe que o amor existe e a a gente acredita, eu acredito =)

Julia disse...

Bi, a cada texto teu me apaixono mais por ti (igor que me perdoe), e não sei mais o que fazer com tal amor.
sinto a sua falta.

Fabianny de Alencar disse...

Acho agradecer difícil.