quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A Despedida É Uma Eternidade

- Parte I

Este sou eu. Para manter a minha sanidade, para não ser julgado maluco, mantive segredo. Este aqui, na ponta, em cima, sou eu tentando minha vigésima segunda morte na beira de um abismo.

Começou assim: remédios, os remédios me deixaram apático como se o meu mundo paralelo parecesse uma bolha me asfixiando e sugando meus pulmões. Eu falava pouco com quem puxava papo porque tinha medo de passar dos limites; meu limite de ar, de palavras, de paciência. Apático e impaciente.

Imagine-se agora uma ostra fechada. Eu era uma ostra, solitária, à espera do meu grão de areia, fechada. Olivia me abriu, me amputou metade do corpo que me cobria com a maior frieza do ser humano, olhou-me com cara de tesão, ânsia e ódio, jogou-me limão - tão ácido quanto o beijo dela - mexi-me um pouco, eu ainda estava vivo. Foi então que ela fez a grande jogada: entrei boca adentro e escorreguei. Ainda era tempo de me segurar em sua goela, mas braços eu já não tinha. Desci garganta abaixo e caí naquele mar de suco gástrico. Antes disso você quase me vomitou. 

Antes de morrer escrevi um livro. Ninguém o viu, ninguém o leu. Nem eu. Já não recordo mais.

No início todas as semanas eu recebia flores. Hoje, pelo peso, só poeira existe em cima de mim e tudo secou. Vezenquando me questiono o porquê de estar trancado aqui, a sete palmos. Observo pelo inconsciente: uma luz acende, a mesma é apagada. Acendem outra. Eu percebo, eu vejo, eu analiso aqui do fundo. 

Tento recorrer à tudo que me restou, nada responde alto o bastante. Nada me segura. Nada me impede. O abismo em minha frente. Eu enfrentando o eco, o vento, o vazio, o profundo. 
Ele grita me chamando, mas eu ainda sei voar.

- Parte II

O amor é uma aposta de fé com Deus. 

Olívia, pensas no amor como doença? Por que uma pessoa pensa uma vida inteira ao lado de alguém? Por que a sisma em ser amado por certa pessoa? De onde nasce, por que crescem e permanecem, qual o intuito - se divino ou humano - de eu ter caído no teu cativeiro?

Logo que começamos, as mãos de Olívia em meu peito, enquanto dormia em meu ombro, parecia de uma ceda fina, um algodão transparente. Ao final Olívia me tocava como que com luvas de borracha. Me tratava de costas. Quando, eu me questiono, quando o amor começa? Quando o amor termina? Quantos centímetros tem o amor?

Logo que terminamos te escrevi cartas de amor, de súplica, de revolta. Te xinguei, te amei, te quis de volta. O amor pelo amor é maior que o amor por uma pessoa.
Em uma das cartas eu dizia que te esperaria, todos os dias, em um certo horário, onde nos beijamos a primeira vez. Você nunca foi e eu resolvi tentar receber minhas próprias respostas, desvendar todo esse nó de perguntas, resolver a aritmética da vida. Eu sou péssimo com números tanto quanto com as minhas dúvidas insaciáveis.

Quando Olívia resolveu parar de triturar, queimar, rasgar minhas cartas, me encontrar onde nos beijamos, correr até mim e criar toda uma cena cinematográfica onde eu a seguro em meus braços, bem, o prazo do amor havia vencido. Ou eu havia vencido o amor. Ou Deus havia vencido a aposta.

Assim que Olívia tentou me beijar após ter me aberto, amputado, jogado limão, engolido, regurgitado, jogado fora - Escuta!, quando Olívia tentou me beijar, uma enorme onda, sabe-se Deus se não um tsunami, sabe-se Deus se era real! Mas aquela água toda formou-se rapidamente, enorme. O mar nos engoliu. Olívia foi cuspida de volta.


4 comentários:

Anônimo disse...

Vou morar nas tuas palavras...

Anônimo disse...

Uma efemeridade ou uma despedida que dura a Eternidade?

Anônimo disse...

Suas palavras mais do que tocam, tornam melhor o nosso jeito de sentir!

Bianca B. disse...

Prefiro um amor pra eternidade, mas cada um com as suas escolhas, meu bem. O que importa é que seja feliz.