terça-feira, 13 de agosto de 2013

À Mulher Que Nunca Amei

"A mulher de leão
Brilha na escuridão.
A mulher de leão, mesmo sem fome
Pega, mata e come.
A mulher de leão não tem perdão.
As mulheres de leão
Leoas são."


Nunca fui de amar demais, de morrer de amores, de chorar pelos cantos ou de sentir muitas dores daquelas fatais, doentias, malucas, repentinas, que ardem e queimam. Eu nunca me humilhei ou sofri mais do que o necessário. Sempre dosei o quanto cada pessoa merecia. Hoje vejo que estava certo.

Eu sou a escória de Deus. Sou o que vai contra o flerte e amor eterno. Sou o que prefere as morenas às louras, os olhos escuros aos claros. Deus não tem orgulho de mim. Eu fui contra qualquer coisa que me impusessem. Mas impus. Deus tem vergonha de um filho assim. E quem sou eu, quem sou eu pra falar de Deus?

Eu estava desolado, carente, jogado. Eu estava quieto e até desesperançoso. Um dia passou pela minha frente, nas minhas retinas já tão falhadas, diante às minhas íris avermelhadas uma moça. Não era nada comum aos meus olhos. Nem mesmo bonita. Os cabelos cor de qualquer coisa que não existe no vocabulário. Os olhos eram estranhos e feios, de um azul perfeito. Eu quis mergulhar em sua boca de dentes retos e senti-la dentro, dentro, dentro de mim. Eu a abracei sem querer, em pensamento. Eu a amei sem pensar, só por dentro. Eu a queria aqui, ao meu lado, agora. Ela era o avesso do avesso do avesso do que eu pedi à Deus. Mas Deus nos dá o chicote da bunda, e eu levei feio.

Eu sou um homem assim, vocês já sabem, precocemente grisalho, com os olhos escuros vezenquando claros, com as mãos de unhas macho, com a boca avermelhada e sempre seca. Eu sou um desses homens comuns que passam desapercebidos por aí. Eu não carrego flores, eu nunca tive o eterno e nem pretendo. Eu tenho amores imensuráveis, mas finitos.
Ela não sabe meu nome inteiro, mas sabe o início. Eu sei seu nome, sua idade e sua data de nascimento. Um dia trocamos signos e ela, talvez inconscientemente, gostou do que ouviu de mim e me jogou um sorriso. Um quase libriano, quase escorpiano, quase geminiano. Um quase. E ela o centro do mundo. Eu tive medo do que ouvi, mas encarei de frente, engoli seco e disse: logo chega o seu aniversário.
Ela é nova, novinha. Nova pro meu coração velho e ranzinza, mas não demais. Não sei se me daria a honra de uma dança, não sei se tomaria uma cerveja comigo. Até porque nas suas estranhezas, ela acaba por ser linda! E me dá a atenção que não tenho há tempos. Um dia, em muitos anos, eu vou olhar e dizer que Deus me castigou, que foi contra mim e colocou longo cabelos cor de oiro com olhos azuis e um sotaque de gente que não existe. Um dia, quem sabe, ela vá lembrar de mim e me tirar para dançar.

"Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de leão!
São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
Ígneas, áureas e sardônicas
E muito, muito liberais."

6 comentários:

Anônimo disse...

Acho que esse texto poderia permanecer sem a existência de qualquer comentário sobre ele, sem nada declarado diante dele, pois sinceramente, não requer um elogio que seja, mas merece todos os possíveis... Completos, vc e os seus textos, separada ou conjuntamente. Linda!

Anônimo disse...

Inspirador!

Anônimo disse...

Solicitação de atualização enviada. Aguardando...

Anônimo disse...

Os juros e a devida correção monetária estão sendo contabilizados... Obrigada pela sua atenção, senhora! Tenha uma boa tarde. TU TU TU TU

Anônimo disse...

Afinal, essa leoa ruiva é quem você quer que te tire pra dançar, ou você quer que o passado torne a dançar contigo?

Anônimo disse...

À espera de novas gotas...