quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pra você.

Escrevi na beirada da mesa, sem perceber, enquanto desenhava ou desdenhava meus rabicos os nossos nomes. Molhados de mel, açucar e cravo. Lambi aquela madeira amarga do verniz. Você nem sabe que eu tenho te procurado pela cidade. Seu endereço sumiu das minhas cartas e eu não consigo te achar em canto algum. 
Ainda lembro o apartamento: do nosso tamanho mais um. Ainda lembro da sua música: do nosso embalo e só. A sós. Eu queria tanto te abraçar agora. Depois uma sacada, nosso colchão e alguns cigarros. 
O amor te visitou e veio cheio de coragem pra deixar tudo pra trás e te trazer com ele. E trouxe. E guardou aqui, nesse cantinho limpo e aceso, quente como água esquentada na hora. Não queima, não dói, só protege. 
A gente precisava estar limpos um para o outro. Eu me molhei inteira, você partiu. Daqui, dali, pra outra. 
Já não é questão de I love you, Je t'aime, Eu te amo. Não é isso escrito, cuspido, falado. O problema na coisa toda que você gerou aqui dentro, cara, é o sentir. Eu tô incendiando. Eu tô borbulhando e fervendo e você não me ver derreter. E é inverno. 
Eu sentei de frente pra janela e olhei pro lado. Nenhum sinal seu, nem dos seus dedinhos com as peles todas tiradas e cheios de feridinhas. Nem dos seus dentões a me sorrir qualquer coisa. Nem da sua preguiça matinal. Nada. E nada é tão pouco. E nós temos sido pouco dessa maneira. E já foi tanto, mas nunca foi muito ou demais. 
Ainda lembro de você com sua camiseta listrada azul e branca. Um stencil na frente. E reclamando das calças muito largas. E me embriagando de vinho barato. E me sujando, e me borrando todo o batom vermelho. E me achando a mulher mais bonita do mundo. Eu, que sempre deixei tão claro que não estava pura, que só havia um coração estragado ali que joguei fora, devolvi à quem pertencia e peguei o meu, tão limpo, tão livre, tão leve de volta. Mas você não vem mais pra mim. E eu te amo tanto!
Mandei-te flores. As mesmas do ano passado em cores diferentes. Sem esperar nada, nem um obrigada escrito em troca. Dessa vez são brancas e rosas. Não sabe como foi difícil escolher. É dificílimo escolher a flor para o amor da nossa vida. Mas você tem a cor delas. Você vai entender. E são muitas e simples, mas são suas. 
Quem vai salvar minha alma agora? Tem gente que não tem salvação e você tá ocupado com uma dessas, uma dessas almas que já nascem impuras, que ninguém quer perto e, quem tem, é por obrigação. E você é tão puro, puro como o branco. O branco nunca tocado, nunca vestido. Eu tenho tanto medo que ela te suje. Ela tentou, sabe? Deu-me um coração cheio de larvas e disse que o tinham deixado assim. Bobagem, é assim desde sempre. Pediu-me que eu o cuidasse por ela pra voltar a vida. Deus sabe como eu tentei. Deus sabe como eu não usei nem veneno pra não matar mais nenhuma parte. Quando eu devolvi, ela me devolveu o meu meio estragado e eu não consegui salvar o dela. 
O meu tá tão lindo, cara! Você devia ver. Colocar a mão, tocar bem fundo. Quem sabe assim você perceba que mora ali, entende? Que tá ali. Que aqui fora você tá sendo sujo, mas dentro de mim você tá tão limpo quanto o coração de uma mãe. Que você tem chances, ainda, de se salvar. 
A minha mão tá estendida.

Um comentário:

Karine disse...

Te admiro. E admiro muito.