terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Rise and Shine

"Nem o coração cortado por um vidro num baldio de espinhos, nem as águas atrozes vistas nos cantos de certas casa, águas como pálpebras nos olhos, poderiam sujeitar tua cintura em minhas mãos quando meu coração levanta suas azinheiras hacia tu inquebrantable hilo de nieve."


Não sei escrever cartas de amor. Mal sei escrever, quem dirá cartas! E de amor!
Eu, que agora ando tão quieta, tão rocha tirada dos morros, mal consigo te escrever qualquer coisa terna ou doce - que é o que sentia por ti - porque estou morta e gélida e meu sangue - expulso do meu coração - forma estalactites de cor encarnado como a papoula, como fruta amadurecida, quase passada do ponto. Estou dura - como as pedras - por dentro. Estou forte e não lapidada como diamante - que risca o vidro. Sou inverno em pleno 48 graus. Nem outono sou mais. Por onde andam as flores da minha primavera? Minhas veias coloridas? Todas secas e cortadas. Grito e a voz volta num eco: não existe mais nada aqui. Nem vontade, nem procura, nem resgate. Meu peito é frio e meu coração tem a forma de um punhal. Tornei-me, então, um nada? 
Temo que seja eterno tanto quanto temo o amor. E amo inconscientemente. E amo sem querer. E forçadamente me proíbo amar. 
Não me deitarei com estranhos, não me aninharei em outras camas ou cheiros, não me exaltarei em pedir amor à quem tem menos que eu ou nem sabe que isso existe.
- Eu te amei.
- Te esperarei até a primavera.
- Mas agora amo Alícia.
- Eu te amo.
- Não vai ter fim.
- Continuarei te esperando para que aqueças e derretas esse sangue coagulado, congelado e que, cheio de pontas, me finca e me machuca.
- Casarei com Alícia.
- Casarei com Joana.
- Nos amaremos.
- Você e eu.
- Nos amaremos para sempre dentro deste ódio que América criou dentro de mim por ti. Te amarei até a tua morte porque amo tudo o que dói em ti. E és toda dor. Te amarei no outono, quando fruta nenhuma tem seu tempo, quando flor nenhuma tem cor certa.
- Te amarei. E só te amarei. Por todos os motivos e por alimentares essas esperanças, essas faltas de vontades em tudo, esse desdém de mim por mim. Te amarei por me aceitares estragada e por me acolheres quando corríamos o risco de não nos amar. Quando corrias o risco de um não - que recebestes. Te amo porque não vejo sentido em desamar um amor assim: leve. E me leve. E se não me amas agora, me amarás quando eu menos esperar e quando eu mais precisar.
- Nos encontraremos em anos de copas do mundo onde todos estarão ocupados em canais de TV e nos ocuparemos em beijos e anseios. De quatro em quatro anos eu te amarei de novo.


"Entre lábios e lábios tem cidades de grande cinza e úmida cimeira, gotas de quando e como, indefinidas circulações: entre lábios e lábios como numa costa de areia e de vidro passa o vento.
Avanza en la dulzura,
vem ao meu lado até que as digitais folhas dos violinos tenham umedecido, até que os musgos entranhem no trovão, até que o ruído faça, de mano y mano, baixar raízes"

Um comentário:

Fabianny de Alencar disse...

Não conheço amor assim. Meu amor é interesseiro e covarde. Dura enquanto é feliz, depois corta os próprios pulsos e se deixa secar. E me deixa. Eu que não sou auto-destrutiva, eu que sou auto-construtiva deixo, acho melhor assim. Porque quando renasce é sempre por outra, é sempre mais bonito.


Ah, bonito teu comentário.