sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Olive

Dear,


não cabe à mim colocar qualquer real destinatário aqui, então a chamo Olívia. Chamo-te assim porque gosto do gosto e porque cabe à um nome, em outras circunstâncias te chamaria de alguma coisa que me remetesse aos teus lábios vermelhos.
Há quanto tempo não escrevo uma carta? Não sei. Assim como não sei o porque de me despertares essas vontades; as de escrever cartas e bilhetes e fazer versos com rimas bobas. Bobas e doces, sem nenhum porque.
Sinto-me triste quando falo nessas coisas que me lembram a distâcia e a saudade que, mesmo sem ser sentida, já se sente. E mesmo sem eu permitir, já se alojou aqui, quietinha, como quem não quer nada e eu deixei. Aconteceu o mesmo com o que eu sinto além. O que eu sinto além, Olívia? Como nomear algo que eu não sei o que é, mas me faz te querer perto. Carinho? Paixão? Amor? "Os Quereres". E que vontade é essa de te beijar a boca e sussurrar qualquer coisa que não faça sentido pra mais ninguém que não seja pra ti e pra mim? Sinto vontade de te matar de amores, Olívia.
Não procurei e, veja bem, os teus escritos me levaram à ti. Nunca foram destinados à mim, não tenho a pretensão de que sejam embora, se acontecesse, meus olhos encheriam de lágrimas e eu ficaria a noite inteira te alisando os cabelos e agradecendo por cada palavra. Mas eu te encontrei assim e sem intenção nenhuma de me apaixonar te falei alguma coisa que me fez te ter perto e agora eu me vejo fazendo loucuras pra ficar ao teu lado.
Faz frio, Olívia, e você está longe. Li e reli o que me mandastes: nada do que eu não saiba, mas que só me faz ter cada vez mais certeza de que eu sou tua. A lareira não foi acesa, não liguei a televisão e não jantei: minha fome é de ti. Quero de novo te ver sair do banho com os cabelos bagunçados, andando um pouco desajeitada, cheia de vergonha, deitar-se ao meu lado e te fazer carinhos desde a nuca até perto no coquix, naquela voltinha onde as cócegas são gostosas. E aí te ver arrepiar inteira e sorrir, meio sonolenta, dizendo que a aula foi cansativa, que os colegas são chatos e que fizestes até amizade com uma mocinha enquanto procuravas o xerox. Logo dormias, tranquila e pesado, enquanto eu te olhava até pegar no sono pra sonhar bonito com a imagem daqueles olhinhos que tanto prezo. 


Faz frio, Olívia. Coloco a blusa que me destes. Sinto-me abraçada. 

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