domingo, 19 de dezembro de 2010

Com Amor...

Você era uma pessoa linda, você era a minha pessoa e tinha tudo, tudo no lugar pra ser linda mas você não foi. 
E você, pessoa linda, você que me amou tanto, que tanto usou e abusou desse amor e agora, por nada, com nada, nem por ti, nem por mim, nem pelo não-nós acredita em qualquer coisa, em qualquer mentira, em qualquer gente que diz e que fala e inventa e cria e sabota e finge que finge que finge que sabe sem saber nada. 
É mais fácil amenizar a dor da perda acreditando que ninguém é perfeito, que ninguém no mundo é equiparável, que eu jamais te faria feliz e que as mesmas meias sete oitavos que eu usei aqui, usei aí e usaria acolá. 


- Eu era um galho seco antes de te conhecer.
- E hoje?
- Eu voltei a ser. Seco, não morto. Esperando e implorando por qualquer gota de chuva, de água, de um regador em cima de mim me pedindo e me implorando e me dizendo: vive? Vive que viver pode ser bonito. Vive que revivendo você eu vivo. E que eu sorrio. E que seu sorriso me faz despertar em paz e dormir tranquilo. Vive que no teu ar eu despejei meu amor e que pelos teus galhinhos fininhos, se verdes eu me penduraria. Vive porque isso não é um peso, eu não seria peso. Eu te carrego, eu te assopro, eu te levo pra tomar sorvete e converso contigo. Vive por ti, mas acima de qualquer coisa, vive por mim, porque te ouvir respirar me faz querer te beijar e te dar toda a vida que eu tenho em mim.
- Uma declaração de amor típica de uma virginiana com ascendente em escorpião e lua em gêmeos. Esperas demais.
- Uma fala inesperada dita por uma canceriana que era melosa e cheia de sentimentos. Típica fala de amor ferido, de ego ferido. Queres te defender de quê?


Você que me prometeu a presença e dizia que faria qualquer coisa. Você me amou, coração! Ah!, como você me amou. De um modo que eu jamais fui amada. Com uma entrega que eu jamais irei receber de novo. Ah!, meu amor, como eu gosto de te chamar assim, quietinha, durante a noite, quando eu penso nos seus olhos puxados e no seu sotaque pesado, macio, arrastado de palavras emendadas, quase grudadas uma nas outras. Eu gostava quando me elogiavas por entender isso que era tão oposto ao meu. Eu achava lindo - tal qual você - quando pedias pra que eu repetisse cinco vezes a mesma frase porque eu atropelava todas as palavras e não entendias nada. Ah, coração!, eu te amei tanto um dia. O tipo de amor que merece o nome que leva. O tipo de amor que eu nunca conheci porque, quando você me amou, eu te desamei. Quando eu me desarmei e pude te amar, você me jogou fora porque eu havia virado galho seco e já não prestava e a preguiça havia habitado uma parte bonita em você, a parte onde eu morava e você, com tanta preguiça, não quis cuidar. Você me colocou em um saco e me jogou no meio de uma porção de coisas impuras e eu não me adequei porque eu não sou tão suja assim. Eu chorei.


- Fala um nome.
- Um nome?
- Qualquer nome.
- Com que letra?
- Qualquer letra. Eu só quero um nome que te venha em mente agora, enquanto falas comigo.
- Marcela.
- Ao menos não começa com A.
- Ao menos não começa com T.


Tanto jogo, tanta bola fora. Meu Deus!, como eu te amei. Eu amei os seus sonos demorados que me faziam sentir fome, mas eu aguentava só porque estava ao teu lado te esperando despertar pra me levar à doceria e me dar qualquer besteira de café da manhã. Eu saía de meias e chinelos; você ria. Eu estava em outro estado e você dizia que eu podia tudo. Eu poderia até te amar por estar em outro mundo, e eu te amei. E eu falei, arriscadamente, que te amava e você riu de novo. Como me doeu aquele riso. Você ria tanto! Como me doeu ter que voltar pra um mundo que não é Alice, que não tem maravilhas e que só possui aquela rainha má querendo acabar com qualquer resto de beleza que há em mim, que há na vida que eu não tenho, que talvez eu tive.


- Você já me quis longe da sua vida?
- Não!
- Quando você leu aquela carta, você sumiu depois. Você me apagou da sua vida?
- Não! Eu só precisei me ocupar para parar com o pecado de te amar tanto.
- Amar não é pecado.
- Pra mim era. Amar você de longe era pecado porque eu sabia que o seu mundo e o meu mundo demorariam a se encontrar. Foram dez dias e não dez anos.
- Eu estava disposta a qualquer coisa.
- Passado, estava.
- Você me quer longe da sua vida?
- Agora? Eu te preciso longe de mim, sem data de volta.


Você sim, pessoa linda, é alguém desprezível.

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